PERSPECTIVA SUCROALCOOLEIRA:Mercado vê c/ressalvas operação da Cosan na ALL
São Paulo, 23 de fevereiro de 2012 - Não ficaram claros para o mercado
quais serão os benefícios que a Cosan terá após a transação com a América
Latina Logística (ALL), em que se compromete a adquirir uma participação de
5,67% do capital social da companhia por R$ 896,5 milhões. Com isso, os
investidores responderam com desconfiança à operação, o que se refletiu em
forte queda dos papéis na semana. De acordo com analistas consultados pela
Agência Leia, ainda é preciso aguardar o desenrolar a transação para avaliar
melhor se os efeitos serão positivos para a Cosan.
Felipe Rocha, analista de investimentos da Omar Camargo Corretora, diz que o
prêmio pago pela Cosan pelas ações da ALL foi alto, porém, não foram
tangibilizados os benefícios que a companhia terá. "O mercado fica
perguntando que conta foi feita", diz, apontando que a falta de clareza dos
benefícios foi interpretada de modo negativo pelo mercado, o que causou a queda
das ações na quarta-feira, dia 22. No primeiro dia de pregão após o
anúncio da Cosan, as ações da companhia (CSAN3) tiveram a maior queda do
setor sucroalcooleiro e do Ibovespa, principal índice de ações da
BM&FBovespa, recuando 5,83%, fechando o pregão negociadas a R$ 29,19. No dia
seguinte, recuperaram uma pequena parte das perdas, com alta de 0,71%.
O analista do Banco de Investimentos do Banco do Brasil (BBI) Henrique Koch
afirma, em relatório, que, em princípio, tem uma visão neutra sobre a
transação. Ele diz que apesar de fazer sentido estrategicamente participar de
uma empresa importante em um segmento que já é foco para o grupo e com
perspectivas de forte desenvolvimento, o prêmio pago pela participação parece
um pouco alto. "Além disso, as sinergias da operação ainda não ficaram
muito claras em termos de ganho de eficiência operacional", escreve Koch. O
analista diz que é preciso aguardar o desenrolar das negociações para
entender melhor os ganhos potenciais para a Cosan.
Para Rocha, um dos benefícios é ter participação em um integrante
importante dentro da cadeia logística da Cosan. "Ela está num player que tem
acesso a vários mercados. Precisamos lembrar que a ALL não atua apenas em
agrobusiness", aponta.
Na opinião de Auro Rozenbaum, analista do Bradesco, a transação foi
negativa para a Cosan num primeiro momento, uma vez que o preço pago foi acima
do preço-alvo definido pela corretora de R$ 16 para dezembro de 2012. "A gente
está esperando para ver quais os objetivos e como ela vai desenvolver essa
participação dela. Até agora é realmente difícil entender a motivação da
compra", analisa. Ele afirma que a operação com a ALL é marginal, pois os
contratos da Rumo já estão assinados e os números envolvidos são baixos
considerando o porte da Cosan. "Com relação a diversificação a gente
também não vê muita coisa, uma vez que a Cosan já está bem diversificada",
afirma.
Em teleconferência realizada nesta quarta-feira, Marcos Lutz, presidente
executivo da Cosan, explicou que a intenção da companhia de fazer parte da ALL
já era antiga. Segundo ele, a Cosan já vinha estudando essa entrada, porém
somente agora teria surgido a oportunidade para esse movimento. A origem do
capital que será usado na compra da participação na ALL ainda não está
definida, mas segundo Lutz, a Cosan não vê necessidade de novas emissões de
ações para isso e poderá usar o caixa já existente hoje no grupo para
concluir a transação. Ele acrescentou que o valor pago pela Cosan leva em
conta a proximidade das duas empresas. "Por estarmos tão próximos da ALL
vemos valores adicionais que o mercado não vê e por isso não faz sentido
tomarmos como referência o valor de mercado", afirmou.
Lutz ressaltou ainda que a Cosan descarta, no momento, a possibilidade de
uma fusão ou aquisição de negócios com a ALL, apesar de as empresas já
atuarem em parceria na Rumo Logística, braço logístico do grupo Cosan. Para
Rozenbaum são negócios diferentes e talvez, em parte, mais complementares.
"Também acho que não vão necessariamente ao encontro dos interesses dos
acionistas da Rumo", diz o analista que, apesar de considerar caro o preço
pago, o ressalta que o histórico das aquisições da Cosan é muito bom.
"Então a gente dá a eles o benefício da dúvida", conclui.
Marília Ávila / Agência Leia
Edição: Douglas Antunes
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