América Latina deve se adaptar a ter moeda mais valorizada, diz Bird
Os países da América Latina, entre eles o Brasil, precisam aprender a conviver com uma moeda local mais apreciada, disse nesta quarta-feira o economista-chefe do Banco Mundial (Bird) para a região, Augusto de la Torre, em Washington.
Ao apresentar o relatório O Êxito da América Latina se Submete à Prova, o economista disse que esse seria um dos fatores para que os países da região possam lidar com as "tensões na formulação de políticas econômicas" que começam a surgir após o período de recuperação da crise mundial.
Muitos países da região, inclusive o Brasil, vêm enfrentando grande apreciação em suas moedas. No Brasil, a valorização do real frente ao dólar é uma preocupação do governo porque acaba tornando as exportações brasileiras menos competitivas no mercado internacional.
De la Torre diz que concentrar os esforços no aumento de produtividade seria uma das maneiras de aprender a conviver com essa nova realidade e manter o crescimento da economia.
Esse cenário de câmbio mais valorizado, porém, precisa refletir o que o Banco Mundial chama de "fatores fundamentais": melhores perspectivas de crescimento, comércio favorável e altos níveis de fluxo de capital não-especulativo.
Desafios
De acordo com o Banco Mundial, o bom desempenho dos países latino-americanos após a crise mundial, com recuperação mais forte que em crises anteriores e também mais forte que a registrada entre as economias avançadas, entra agora em uma fase de "amadurecimento", que traz consigo desafios para as autoridades.
Além dos riscos externos, associados a fatores como o ritmo ainda lento de recuperação das economias avançadas e ao aumento dos preços das matérias-primas, há também riscos internos.
Por um lado, é necessário controlar a inflação, em meio a um aquecimento econômico e aos crescentes preços internacionais dos alimentos e dos combustíveis. Ao mesmo tempo, esses governos tentam evitar uma apreciação "excessiva" de suas moedas, em um contexto de preços elevados e potencialmente voláteis das matérias-primas (produtos exportados por muitos desses países) e de aumento dos fluxos de capital.
Ambos os desafios são vivenciados pelo Brasil, onde o governo já vem desde o ano passado adotando medidas para tentar conter o fluxo excessivo de capital estrangeiro (atraído principalmente pelas altas taxas de juros do país) e em um momento em que as projeções de inflação rondam os 6,5%, teto da meta estipulada pelo governo (cujo centro é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo).
Crescimento e inflação
"O ritmo de crescimento não-inflacionário que a região pode suportar está chegando ao limite", diz De la Torre, ao observar que muitos países latino-americanos começam a enfrentar limites em suas capacidades produtivas, o que gera pressões inflacionárias.
As pressões inflacionárias são reforçadas pelos aumentos dos preços dos alimentos e dos combustíveis. Em uma tentativa de "esfriar" a economia e manter a inflação sob controle, os bancos centrais elevam as taxas básicas de juros, o que acaba atraindo grandes fluxos de capital de curto prazo e provocando a apreciação das moedas locais.
"É por tudo isso que o espaço de manobra da política macrofinanceira se restringiu significativamente", diz o relatório.
Segundo o documento, na tentativa de encontrar soluções "híbridas" para esses desafios, os países acabam colocando uma carga maior sobre a política monetária (ajuste da taxa de juros), enquanto a política fiscal (controle de gastos públicos) fica em segundo plano.
Esforço fiscal
O Banco Mundial diz que os países precisam adotar um esforço fiscal que possa gerar maior superavit primário (dinheiro separado para o pagamento de juros e da amortização da dívida pública), mas sem colocar em risco as políticas sociais.
No Brasil, segundo De la Torre, os mercados internacionais reconhecem que foram adotadas "importantes medidas fiscais" para conter o ritmo de crescimento dos gastos. "Mas isso não quer dizer que não se possa nem que não se deva fazer mais", diz o economista.
"Eu acredito que há espaço no Brasil para que o ritmo de crescimento dos gastos siga diminuindo", diz De la Torre, ao observar que um ritmo de crescimento de gastos menor ajudaria a tirar o peso sobre a taxa de juros, "que faz com que a moeda esteja sobre grande pressão de apreciação".
De modo geral, diz o relatório, se quiserem manter as conquistas sociais obtidas até agora e atingir uma tendência de crescimento mais "robusta", os governos da América Latina e do Caribe precisam também investir em infraestrutura, inovação e capital humano.
Fonte: G1 Economia
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